Uma das minhas músicas preferidas do Renato Russo se chama “Por enquanto”, que ficou bem mais conhecida na voz da cantora Cássia Eller. Num trecho dela diz o seguinte:
“Se lembra quando a gente
Chegou um dia acreditar
Que tudo era pra sempre
Sem saber que o pra sempre, sempre acaba
Mas nada vai conseguir mudar o que ficou
Quando penso em alguém, só penso em você
E aí então estamos bem”
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A partir dessa linda música e de algumas palavras da psicanalista Ingrid Gerolimich, quero lhe convidar a refletirmos sobre as AMIZADES e sua duração ao longo do tempo.
A Ingrid escreveu “A amizade não é necessariamente construída para durar a vida inteira, mas para ser inteira no tempo em que acontece”. Em outras palavras, o mais importante não é a duração de tempo da amizade e sim o quão intensa e importante ela foi para a gente.
São palavras simples, muito verdadeiras e profundas. E conectando com a música do Renato Russo é maravilhoso: “nada vai conseguir mudar o que ficou...”. Ou seja, nada pode mudar as experiências vividas e os aprendizados que só uma boa amizade pode proporcionar.
Fiz uma grande autorreflexão lendo as palavras dela e levando para as várias amizades que eu tive ao longo da vida e que pelas mais diversas razões, saíram da minha vida. Sabia que os amigos são como grandes mestres que podem nos ensinar a nos lapidar, ajudando para que melhoremos como pessoa?
Devo muito de quem eu sou hoje a vários bons amigos que tive e outros que ainda tenho o privilégio de ter na vida. Vou exemplificar algumas dessas amizades e sua importância na minha vida.
Quando era mais novo eu não me importava com a pontualidade. Era um defeito horroroso que eu tinha. Frequentemente chegava atrasado em compromissos assumidos e não tinha noção do quanto aquilo poderia atrapalhar o andamento de alguma atividade ou que poderia deixar a outra pessoa impaciente e ansiosa na espera.
Foi uma boa amizade que me ajudou a mudar isso e hoje em dia sou um cara tão pontual que alguns até brincam comigo dizendo que tenho a famosa pontualidade inglesa e eu às vezes até brinco que meu sobrenome não é “Costa”, é “Pontual”, “Isaias Pontual” kkkkkk.
Essa pessoa saiu da minha vida, mas tenho até hoje profunda gratidão por ela e o quanto me ensinou nesse sentido.
Também tive um ótimo amigo que era super extrovertido, simpático e metido a galanteador que, no fim da adolescência para início da vida adulta, convivia quase diariamente comigo e me ensinou tanta coisa interessante sobre a aproximação com as garotas e a importância da autoconfiança que em questão de pouquíssimo tempo estava namorando. Talvez sem as suas dicas e observações eu tivesse sofrido mais pra começar a namorar, pois sempre muito mais tímido e introspectivo.
Ele também saiu da minha vida por questões de morar muito longe, mas sempre serei muito grato por tudo que vivemos juntos e o quanto aprendi com ele...
Também tive dois grandes amigos na época em que fiz o curso de mestrado que me ajudaram imensamente a desenvolver minha pesquisa, que tinha um caráter mais experimental. Quem me conhece sabe que sempre fui um cara da teoria, e no mestrado eu pus a mão na massa dentro de uma oficina mecânica e aprendi a mexer em vários equipamentos. Um dos dois era fera na parte de equipamentos e o outro era um monstro no Excel e ajudou a fazer praticamente todos os gráficos, desenhos e tabelas que precisei na pesquisa.
Nossa amizade não se resumia ao trabalho de pesquisa. Frequentemente saíamos juntos com outros amigos da faculdade e estreitamos os laços de forma muito bacana e saudável. Os dois saíram da minha vida, mas também serei eternamente grato a tudo que vivemos juntos...
Olhando minha vida hoje, sinto que foram ciclos muito bem definidos, com começo, meio e fim. Era para ser exatamente como foi. Estive junto destes e de outros amigos enquanto era para ser. Depois cada um seguiu sua vida para seu lado...
A Ingrid também diz isso aqui: “Há amigos que cumprem papéis fundamentais em certas etapas do nosso desenvolvimento psíquico, e que depois, por razões diversas, deixam de ocupar o mesmo lugar”.
Isso complementa o que disse antes. Eu me tornei pontual através de amigos, aprendi a me relacionar melhor com garotas através de amigos, aprendi muitas coisas práticas de oficina mecânica através de amigos e muito, muito mais que não trouxe ao texto para não o transformar num catálogo kkkk.
Acho muito importante comentar sobre o sentimento de GRATIDÃO. Sinto que ao nutrir gratidão, a vida sempre se encarrega de pôr na nossa vida cada vez mais pessoas incríveis, que vão nos ajudar a ir além, a subir mais um degrau na nossa evolução pessoal. Eu inclusive consigo ser grato até mesmo aos que foram amigos e que saíram da minha vida de forma negativa, por conta de decepções e disparidades de visões de mundo. Mesmo estas amizades serviram para eu olhar para mim mesmo e confirmar: “Uau Isaias, você está mudando de verdade cara...”.
É interessantíssimo notar o outro lado da moeda. Vários que já foram meus amigos saíram da minha vida por não se alinharem com minhas novas versões de mim mesmo sabe? Eu tenho absoluta consciência de que isso aconteceu diversas vezes. O Isaias de hoje é totalmente diferente de 5 anos atrás, 10 anos atrás, 15 anos atrás. Minhas mudanças não conseguiram ressoar com muitos que já conviveram comigo e está tudo bem que seja assim. Leve pra sua vida essa reflexão e você vai perceber que algo muito semelhante também aconteceu com você... Isso é maravilhoso percebe?
Depois dessa viagem sobre as amizades, aí você vê que o “pra sempre” é muito vago não é? O que seria o “pra sempre”? Seria até a morte física? Será que ela é o fim definitivo? Ou existe algo além?... Não vou entrar nessa espera porque dá pano pra manga falar sobre isso hehehe.
Enfim! A amizades são uma verdadeira preciosidade na nossa vida. Tenho muita gratidão por todas as que já tive, ainda tenho e que certamente ainda terei ao longo da vida.
Viva às amizades...
Que bela reflexão sobre a natureza das amizades e seu impacto em nossas vidas.
A amizade não é definida apenas pela sua duração, mas pela profundidade e significado que ela carrega enquanto acontece. Isso nos lembra que cada vínculo, independentemente de seu tempo, deixa marcas e aprendizados duradouros.
A conexão que você fez com a música *Por enquanto*, de Renato Russo, é muito sensível. A ideia de que "o para sempre, sempre acaba" ressoa profundamente quando olhamos para amizades que foram importantes em determinados momentos, mas seguiram caminhos distintos. No entanto, como ele bem destaca, "nada vai conseguir mudar o que ficou". Ou seja, as memórias, os ensinamentos e as emoções vividas permanecem e moldam quem somos.
O teu relato pessoal também traz um olhar muito interessante sobre a gratidão. Cada amizade, mesmo aquelas que terminaram de maneira negativa, contribuiu para sua evolução. Isso é uma visão madura e enriquecedora: entender que cada pessoa que passou por nossa vida, de alguma forma, nos transformou.
Por fim, sua reflexão sobre o alinhamento com nossa própria mudança é poderosa. O fato de alguns amigos saírem de nossa vida porque não acompanham nossa evolução é natural e saudável. Crescemos, mudamos, e nossas relações também precisam se adaptar. Isso não diminui o valor das amizades passadas, apenas reforça a importância dos ciclos e da aceitação de que algumas conexões cumprem seu papel em determinado tempo.
Teu artigo é um convite a refletir sobre nossas próprias amizades e sobre como elas moldaram nossa trajetória. Que bela homenagem às relações que nos tornam melhores!
Obrigado por compartilhar sua visão de mundo com tanta sensibilidade.
Que você continue espalhando essa luz e inspirando mais pessoas com suas palavras!
Gratidão!